🇧🇷 Melhores Leituras de 2020

Rebeca Sarai · January 2, 2021

  1. How to Take Smart Notes - Sönke Ahrens
  2. Make it Stick - Peter C. Brown, Henry L. Roediger III, Mark A. McDaniel
  3. Fermat’s Enigma - Simon Singh
  4. Flores para Algernon - Daniel Keyes
  5. Angústia - Graciliano Ramos
  6. Paraíso Perdido - John Milton
  7. Júlio César - William Shakespeare
  8. Deep Work - Cal Newport


O ano finda e aqui fica o registro das melhores leituras do ano.

How to Take Smart Notes - Sönke Ahrens

Foto de capa do livro How to Take Smart Notes

Esse livro é bastante popular no lugares sombrios da internet que falam sobre produtividade e apesar da minha antipatia com esse sub-mundo confesso que a popularidade dele é bem merecida. O livro propõem um método de como fazer anotações baseados na experiência de vida de Niklas Luhmann, o método tem suas camadas de complexidade, mas a ideia principal é: ao fazer notas refletir a respeito do conteúdo, escrever com a suas palavras, salvar essa nota em um lugar perene e confiável, repetir o procedimento para ideias, reflexões, pesquisas. Esse processo faz com que você aprenda melhor o conteúdo, evite plágio (afinal as notas estão nas suas próprias palavras), trace conexões entre as notas e tenha novas ideias.

Tive a sorte de ler esse livro no começo do ano, justamente quando eu estava precisando organizar melhor minhas anotações. Como aluna de mestrado que também trabalha 8 horas por dia, eu senti que precisava organizar melhor os artigos que eu lia, o conteúdo entre eles, as abordagens e as técnicas. Naquele momento eu usava o Notion para guardar minhas notas em uma estrutura de páginas dentro de páginas, utilizando as ideias desse livro eu reformulei todo o meu sistema de anotações para ser mais simples e potencializar conexões. Meu sistema é:

  • Um repositório no github chamado second-brain
  • Esse repositório tem um folder: brain
  • brain tem centenas de notas em arquivos de texto sobre os mais variados assuntos. Todas as notas têm um título significativo.
  • Uso tags para marcar notas que pertencem a uma mesma área do conhecido
  • Um arquivo chamado Brain Index é o index de todo o meu second-brain
  • Além disso uso ferramentas de busca de texto para achar frases ou tópicos específicos

Esse novo método resolveu um problema que eu tinha sempre ao adicionar uma nota: Onde colocar isso? E onde eu coloquei tal conteúdo? O esforço mental para criar e achar uma nota foi reduzido a zero, o esforço de procurar tópicos relacionados também, no entanto o maior benefício foi: eu estou sempre escrevendo. Todas as notas são minhas, saem da minha cabeça, não existe copiar e colar, o que funciona como uma espécie de prática. 10 meses depois e eu posso dizer que esse livro muito me impactou e mais continua comigo.

Make it Stick - Peter C. Brown, Henry L. Roediger III, Mark A. McDaniel

Foto de capa do livro Make it Stick

Mais um livro lido no começo do ano, antes da pandemia e antes do meu último semestre de aulas no mestrado. Esse livro é uma coleção de artigos científicos, pesquisas e experimentos sobre como melhorar o aprendizado. É uma excelente recomendação para qualquer um que tem uma vida de estudos ou que precisa estudar. Alguns dos conhecimentos apresentados neste livro são:

  • O aprendizado é efetivo e duradouro quando é difícil. Aquela sensação de frustração durante o estudo não é um sinal de burrice, mas sim de que o aprendizado está acontecendo
  • Reler textos e marcar trechos importantes são formas ineficazes de estudo
  • Testes são a melhor forma de estudar: exercícios, questões, pequenas avaliações durante o estudo.
  • Variar a prática também produz melhor retenção do conhecimento: fazer questões de um assunto, fazer de outro, voltar para o primeiro.
  • Revisar o conteúdo com testes e depois de certo tempo interrompe a curva de esquecimento e melhorar a retenção.

Todas essas questões têm permeado meus estudos durante o ano e não posso deixar de recomendar esse livro para qualquer pessoa interessada em aprender e lembrar do que aprendeu.

Fermat’s Enigma - Simon Singh

Foto do livro Fermat's Last Theorem

Uma viagem pela história da matemática enquanto acompanhamos a história do Teorema de Fermat. O escritor é um jornalista chamado Simon Singh e ele conseguiu fazer um livro sobre um teorema matemático (com muita matemática complexa) acessível a qualquer pessoa com conhecimento da língua. A história é vívida e dinâmica, uma ótima recomendação para quem gosta de matemática ou uma boa história. Me impressionou o fato de que apesar do teorema não ser em si de grande serventia, a busca pela sua solução foi o catalisador de várias inovações matemáticas.

Flores para Algernon - Daniel Keyes

Foto do livro Flores Para Algernon

Livro de ficção científica da década 50. Esse foi um dos melhores livros de ficção do ano, me prendeu e me emocionou. Para um livro curto, ele aborda vários temas complexos e como nós como sociedade reagimos a eles. Escrevi um post exclusivo sobre esse livro com todas as minhas impressões e comentários. Uma grande recomendação para quem gosta de ficção.

Angústia - Graciliano Ramos

Foto de capa do livro Angústia

O único livro de literatura brasileira na lista. No dia que Graciliano terminou de escrever o livro, conta-se que ele foi preso pelo governo de Getúlio Vargas sob a acusação de associação ao comunismo. Os tempos eram outros, o Brasil passava por uma grande recessão econômica, por um golpe militar, e pelo período pós abolição da escravatura.

Esse livro faz parte da série de romances regionalistas da literatura brasileira e é um livro difícil de descrever. Sendo muito reducionista o enredo seria: homem fica obcecado por uma mulher e coisas acontecem. Até cheguei a ler alguns comentários gringos nesse teor, menosprezando a obra, é meu dever dizer que esse livro é muito mais do que isso. Tantas coisas únicas e nossas são representadas, o homem aqui não representa um homem singular, mas sim um retrato de uma parcela da sociedade, um homem que bruto, criado na roça, cigano, que não se encaixa, que não possui e nem pode possuir coisa alguma. Inteligente, mas nem tanto. Desconstruído (para usar um termo atual), mas nem tanto. Com algumas mudanças de cenário, costumes e linguagem, uma grande parcela da população brasileira de 2020 continua bem representada.

Graciliano põe em prática algumas técnicas modernistas como o fluxo de consciência (monólogo interior), onde o narrador-personagem conta a história a partir de suas percepções e lembranças em uma sequência não linear. Os truques e artimanhas usadas pelo autor me prenderam na obra e o final circular me fez querer ler todo o livro novamente. Luis, o personagem principal, tem minha simpatia e carinho e por muitas vezes me lembrou os personagens de dois poemas de Edgar Allan Poe: O gato preto e O coração delator. Enfim, em muito me agradou a história, em muito me agradou a forma, recomendo para qualquer um que goste de escritores modernistas e de literatura brasileira.

Paraíso Perdido - John Milton

Foto de capa do livro Paraíso Perdido

Fiquei um tanto relutante em colocar esse livro na lista, mas de fato eu o li e de fato o classifiquei como 5 estrelas.

Essa obra é classificada como poesia épica, um gênero que eu até então desconhecia. Para melhor entender o livro e o gênero me servi de um outro livro: A Preface to Paradise Lost de C.S. Lewis como introdução. Essa leitura preliminar foi crucial para o meu entendimento e deleite da obra, o ponto principal a ter em mente ao ler uma poesia épica é que a leitura não se dá da mesma forma que a leitura de um livro em prosa. A poesia épica de Milton é a versão escrita das grandes histórias de conquista e de honra narradas pelos poetas inspirados pelo divino em ocasiões especiais, o leitor precisa permitir ser transportado para esse estado de espírito para apreciar a obra como um todo.

Milton conta uma versão completa dos primeiros capítulos do livro de Gênesis: a criação, o homem, o pecado e a saída do paraíso. Foi uma leitura maravilhosa, apesar do custo, é difícil ler poesia quando não se está acostumado a ler poesia, a linguagem também não é nada fácil. Recomendo a todos que se desafiem a ler esse livro, vale a pena.

Júlio César - William Shakespeare

Foto de capa do livro Júlio César

Um dos últimos livros do ano. Júlio César é uma peça curta de cinco atos, que narra como se deu a conspiração que matou César e o destino dos conspiradores. Essa peça é considerada uma das mais fracas de Shakespeare pela crítica especializada, eu no entanto a achei excelente. Existe um conflito velado entre César e os nobres, eles temem uma possível virada autoritária do imperador e armam para impedir que isso se realize, enquanto isso César está alheio ao perigo e se acha mais eterno que os diamantes.

As posições de ambos são dúbias e incertas, quer César se tornar rei de Roma? César é realmente ambicioso? Os conspiradores estão salvando Roma? Ou estão traindo Roma? No entanto, apesar da peça receber o nome do imperador alguns críticos afirmam que a tragédia é na verdade de Brutus, o amigo (talvez filho de César) que se une aos conspiradores por amar mais a Roma que ao amigo.

Tudo nessa peça me pareceu dúbio. Toda a peça tem um caráter político, os personagens parecem improvisar uma dança complexa ao tentar equilibrar seus próprios interesses e evitar desastres. O discurso de Marco Antônio foi o ponto alto da peça para mim.

Deep Work - Cal Newport

Foto de capa do livro Deep Work

Esse livro pode ser considerado uma trapaça, porque eu terminei de lê-lo no dia 27 de dezembro de 2019. No entanto, ele encerra a lista de 2020 pelo impacto que teve em mim durante o ano. Em poucas palavras esse livro defende que: atenção restrita e focada faz com que você faça as coisas melhores. Atenção restrita e focada quer dizer trabalhar sem distrações, sem redes sociais, sem espiar notificações, sem troca de contexto, significa fazer uma coisa só e com toda a atenção. O livro é uma apresentação a esse conceito, práticas e estratégias para ter uma vida mais profunda e como isso parece ser a chave para a satisfação.

Como eu já mencionei em algum ponto nesse post, eu sou aluna de mestrado e durante o ano de 2020 eu teria que desenvolver a minha pesquisa e ao mesmo tempo manter uma jornada de trabalho de 40 horas semanais. Todo o conteúdo do livro me pareceu muito coeso e bem pensado, decidi então aplicar essa metodologia de trabalho focado durante as minhas horas de pesquisa. Como todas as coisas, no começo foi bastante difícil, no livro ele recomenda que você anote suas horas de trabalho para servir como motivação, na primeira semana eu consegui 5 horas, uma hora para cada dia da semana. Com o tempo minhas horas foram aumentando, minha pesquisa começou a tomar forma e os resultados começaram a aparecer. Tenho que dizer sobre minha experiência de pesquisa nesse último ano, mas isso fica para um outro post, em suma, as ideias desse livro são sólidas e me ajudaram no decorrer do ano.



Um momento final para dizer que esse ano passou longe de ser perfeito, o mundo todo passou por dificuldades e eu não fui exceção. Alguns livros ajudaram, outros não, ainda assim: “Existem coisas melhores adiante do que qualquer outra que deixamos para trás”.


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